Entre novembro de 1969 ‒ nos primeiros dias do governo do general Emílio
Garrastazu Médici (1969/74), empossado em 25 de outubro ‒ e outubro de 1975 ‒ no
segundo ano da distensão do general Ernesto Geisel (1974/78) ‒, dez militantes de
esquerda e de ascendência judaico-brasileira foram mortos, sob tortura, nos porões da
ditadura civil-militar implementada no país no pós 31 de março/1° de abril de 1964.
Estas dez histórias para contar reúnem perfis de diferentes militantes vinculados a
diversas alas das esquerdas armadas no Brasil.
Essas trajetórias estão inseridas nesse contexto de efervescência cultural e
política de fins dos anos de 1960 no país e no mundo. Seu ponto em comum é que
tinham uma ascendência judaica, mas não exerciam uma militância judaica. Não eram,
por exemplo, sionistas; eram brasileiros lutando por seu país. E o interessante para essa
reflexão é justamente isso: uma geração posterior a fundação do Estado de Israel que
não está preocupada com a pátria para o povo judeu, e sim com a terra para onde seus
avôs vieram há quase meio século.
Meu intuito não é buscar nas origens de um judaísmo de esquerda ou na
militância de parentes de alguns desses dez casos, a explicação para o seu engajamento
político. A perspectiva é delinear novas formas de exercer a identidade judaica no
contemporâneo que contemple a equação "ser judeu, ser brasileiro".
Portanto, destas dez história (mais uma) para contar percebemos que eram
múltiplos: eram judeus, eram brasileiros, eram do mundo. Engajados em uma “viagem”
semelhante, mas não igual, há várias gerações de intelectuais brasileiros, desejavam a
utopia dos românticos revolucionários