No ano 2000, com a publicação do livro Entre Moisés e Macunaíma, co-escrito com Moacyr Scliar, o escritor brasileiro Márcio Souza pela primeira vez se reconhecia publicamente como judeu. Nascido em Manaus, de linhagem judaica paterna e materna, ele admite que a memória judaica de sua família fora apagada em favor da assimilação católica. Foi através do Prof. Samuel Benchimol, autor de Eretz Amazónia, que Márcio Souza veio a saber que era judeu—por origem e segundo a halachá.
Foi como judeu que Souza escreveu o ensaio autobiográfico no livro de 2000. Mas a sua longa obra de ficção continuava então desprovida de temas ou imagens judaicas. Em 2018, comemorando o bicentenário da imigração marroquina ao Brasil, Souza publicou uma peça teatral intitulada Eretz Amazónia: sua primeira obra “judaica” era a sua versão para o teatro da obra do Prof. Benchimol.
Composta de sete cenas, a peça percorre tempos e espaços distintos, criando um panorama cronológico da imigração judaico-marroquina ao Brasil. Os quadros começam em Tetuã, no Marrocos, passam pelo interior dos Estados do Pará e Amazonas, e chegam `a capital Manaus. Antissemitismo, questões de identidade, e línguas judaicas juntam-se a temas caros a Souza, como a indústria da borracha e o capitalismo na Amazónia.
Este trabalho lerá a peça Eretz Amazônia, observando as escolhas formais e linguísticas de Souza na sua adaptação do trabalho histórico. Buscará entender como a peça toma parte na recuperação da identidade judaica do autor, num momento em que há também um movimento maior de recuperação da identidade sefardita no Brasil.